Que está mesmo aqui ao lado, no nosso país, muito bem guardado como se de um tesouro se tratasse. E provavelmente no que toca à arte é disso mesmo que se trata... um retiro de luxo, que alberga em si um pequeno (grande) tesouro criativo, e toda a leveza dos pensamentos que se podem ter no campo, rodeada de nada e de tudo ao mesmo tempo... um espaço que é muito mais do que a simples percepção dele mesmo quando vivido lá dentro, a respirar cultura e a suspirar pela eternidade ali mesmo...
Podia dizer que é um hotel, uma villa ou uma casa mas qualquer definição lhe fica pobre e não encaixa naquilo que os meus olhos tiveram o prazer de ver - e rever vezes sem conta, ao vivo e atrás de uma objectiva que teimava em disparar para cada pormenor mais do que uma vez, tal era o medo de o perder e nunca mais guardar essa imagem comigo.
Escondida nos vales de Arraiolos está a Villa Extramuros. E dizer que foi o sítio mais fantástico onde já estive é pouco, muito pouco. Já há uns 3 anos que sonhava em visitar a Villa, procurava mil e um pretextos que me levassem a Arraiolos ou lá perto, mas sempre sem sucesso. E enquanto planeava a visita ao Alqueva, este pareceu o motivo mais válido de todos para ter que fazer uma paragem por Arraiolos. E assim, aquela que ia simplesmente ser uma viagem ao Alqueva, rapidamente se transformou numa viagem ao centro do Alentejo. E motivações aparte, sempre achei que esta estadia ia ser apenas isso, um desvio para passar duas noites em mais um sítio bonito... só que o que vi quando lá entrei foi isso e muito mais... foi o meu mundo, todo condensado dentro duma casa, que podia ter sido pensada por mim, em cada cadeira, em cada apontamento de cor, em cada candelabro e em cada livro pousado...
Fomos recebidos pelo François, que nos abriu a porta como se da sua casa se tratasse e foi este o sentimento que tivemos ao longo de toda a estadia. Que o François e o Jean-Christophe nos tinham recebido em sua casa e que enquanto lá estivéssemos seria um bocadinho nossa também... Sabia que atrás daquela porta estaria uma belíssima casa, minuciosamente decorada, não sabia que mal se abrira eu ia sentir uma nova energia, que me ia fazer respirar fundo, inspirar toda a cultura que ali vive, e reflectir sobre sonhos, desejos, objectivos... Olhar para aquelas estantes preenchidas de livros fez-me inevitavelmente pensar há quanto tempo não compro um, há quanto tempo não estava dentro daquele mundo em que sempre estive envolvida, que sempre me definiu mas que talvez quem me conheça agora não o veja tão presente... Acredito que tudo isto tenha tido mais impacto em mim por me identificar com aquele espaço e com a origem de tudo aquilo, mas escrevo hoje este texto a acreditar que o que eu senti qualquer pessoa vê... e é impossível não sonhar...
A Villa Extramuros têm apenas 5 quartos, 3 quartos standard e 2 suites superiores, todos no primeiro piso, todos com terraços privados com vista para o monte e para a piscina ou para o castelo de Arraiolos. No piso térreo, existem as salas comuns, salas de estar que nos fazem querer ficar lá, só lá, e não conhecer nada mais que o Alentejo tenha para nos oferecer... as áreas de repouso, de leitura, de convívio são tão acolhedoras e tão ricas que dão uma vida àquele espaço que, acredito, exista em poucos no mundo.
Entre móveis vintage franceses e artesanato local, a decoração de Extramuros é única, conjugando elementos inusitados com objectos de arte que nos fartamos de ver nos livros. E acredito que nada ali esteja ao acaso mas sei também que é tão verdadeiro que só assim nos poderíamos sentir tão bem num espaço que não é nosso e que bastam uns minutos para pensarmos que é.
As áreas exteriores vão tendo também elas os seus recantos, com pufs e guarda-sois, onde pudemos relaxar a apreciar a beleza do monte alentejano ou pegar num livro ou revista, das mil e uma que existem nas estantes das salas, e ler. Também a música é uma constante em Extramuros, está presente nos espaços interiores como nos exteriores e varia desde a música portuguesa ao jazz e à música francesa, ou não fossem os donos da Villa parisienses.
Na Villa os dias terminam junto à piscina, a ouvir as ovelhas recolher, e a apreciar o pôr-do-sol fantástico atrás do olival de 12 hectares. De manhã, o dia começa em qualquer espaço dali, os pequenos almoços podem-se tomar no terraço do quarto, no pátio central, em qualquer área de estar interior ou exterior, é só escolher. E que bem que sabe começar o dia ao ar livre, com um pequeno almoço revigorante, cercada pela natureza e por tantos elementos bonitos que nos transportam para o contemporâneo ao mesmo tempo que evidenciam as nossas raízes.
Saí da Villa Extramuros com um vazio enorme de a deixar para trás, mas com o coração cheio do privilégio de ter podido lá viver dois dias. Se há sítios que deixam saudades este é, sem dúvida, o que mais saudades me dá, e aquele que, tenho a certeza, me vai fazer fingir que não conheço o alentejo só para ter um bom motivo para lá voltar. Mas essa será só uma boa desculpa para os outros porque eu, eu sei que quando lá entrar outra vez, não vou querer conhecer nenhum alentejo se não aquele que se vive lá dentro.
m.*
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